Ultimato


Publicado em: O Gaiense, 12 de Janeiro de 2013



Foi divulgado esta semana o relatório do FMI para o futuro de Portugal. Ao longo de 76 páginas, descreve-se com detalhe aquilo em que gostariam de transformar o nosso país. Trata-se de uma verdadeira declaração de guerra à nossa economia e à nossa sociedade. A Comissão Europeia dá-nos o prazo de um mês para o aceitar. Estão, portanto, definidos os termos do ultimato. O factor que falta conhecer para completar esta equação é a reação do povo português.

A nossa história já registou outros ultimatos. Como todos sabem, o ultimato feito a Portugal em 1890, sob a forma de um “Memorando”, gerou uma enorme reação popular que levou à queda do governo. Publica-se o livro Finis Patriae de Guerra Junqueiro. A 31 de Janeiro de 1891, no Porto, entoando um canto de revolta intitulado “A Portuguesa”, estala uma revolta contra o ultimato e contra o regime que aceitou o Memorando. Pouco tempo depois, em 1910, o regime finalmente caiu e o hino da revolta passou a ser o Hino Nacional de um Portugal republicano.

Os portugueses de hoje têm a memória viva de uma outra revolução que acabou com a ditadura e instaurou a democracia política. Agora, que nos foi declarada uma guerra económica e social, está na ordem do dia uma nova revolta contra o novo ultimato, para acabar com a ditadura dos mercados e instaurar uma democracia económica e social. Essa sim, seria uma verdadeira reforma estrutural: alterar a sério a estrutura económica do país, pondo um ponto final ao finis patriae que troika e governo nos estão a impor.

Daqui a alguns dias, será novamente 31 de Janeiro. Vamos a isso?

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