A lebre e a tartaruga


Publicado em: O Gaiense, 16 de Julho de 2011
Esta não é uma história como a fábula de Esopo e La Fontaine em que a perseverante tartaruga ganha a corrida à lebre, mais rápida, mas desleixada; nem se trata de um paradoxo como o de Zenão, em que o herói grego Aquiles, veloz corredor, nunca consegue apanhar a tartaruga porque, por muito que se vá reduzindo a distância que os separa, terá sempre de percorrer primeiro metade dessa distância e, nessa altura, a tartaruga já estará um pouco mais à frente.
A lebre da nossa história é o ataque às dívidas soberanas que diariamente nos surpreende com novos desenvolvimentos, evoluindo a uma velocidade vertiginosa em direcção a algo que ainda não sabemos bem se é muro ou precipício. Atrás dela segue, à velocidade de tartaruga, a União Europeia com as suas hesitantes e fracassadas medidas anticrise.
Esta semana, Durão Barroso explicou na RTP que já em 2008 tinha proposto a regulação das agências de rating, mas que não teve apoio, e que em Janeiro tinha proposto o reforço do fundo de resgate, que só agora vai ser concretizado. Muitos têm proposto a mutualização da dívida da zona euro através da emissão de eurobonds, medida urgente e indispensável para criar uma barreira colectiva contra a ofensiva dos mercados, mas ainda ninguém sabe quando é que a tartaruga chamada UE vai lá chegar. O que se sabe é que, quando isso acontecer, já a lebre da especulação terá engolido mais uma parte substancial dos nossos recursos colectivos.

Sem comentários: