Um suave milagre



Publicado em: O Gaiense, 11 de Junho de 2011

Os portugueses votaram e decidiram aderir à terapia de choque proposta pela troika para fazer face à dívida do país. Justamente agora que começa a ser reconhecido por todos na Europa que a Grécia ficou mais doente após ter sido submetida a tratamento semelhante pela mesma troika e que têm hoje ainda menos condições do que antes para pagar a sua dívida.
A novidade é que agora foi o ministro das Finanças da Alemanha que veio propor aos ministros da zona euro e ao BCE que o prazo de vencimento das obrigações gregas seja aumentado em sete anos, considerando que só esta reestruturação da dívida pode dar tempo à Grécia para recuperar a economia, sem o que nunca poderá pagar a sua dívida.
Na UE está a ser discutido um segundo financiamento de 60 a 70 mil milhões de euros, pois é já claro que a Grécia não vai conseguir financiar-se nos mercados em 2012, como estava previsto no memorando que acompanhou o primeiro empréstimo.
Por cá, parece que nada disto nos afecta. Alimenta-se a ilusão de que uma economia com mais recessão (como está previsto nas projecções oficiais) poderá ser capaz de pagar uma dívida 78 mil milhões de euros superior à que tínhamos antes. Não será preciso ser um génio da economia para chegar à mesma conclusão a que chegou o ministro alemão: se a economia não cresce, não se geram os fundos necessários para pagar a dívida, se não se renegoceiam os prazos e os juros da dívida, a economia não cresce.
Mas talvez as leis da economia não se apliquem a Portugal, esta terra sagrada que acredita no milagre da multiplicação dos pães ou, se até isso desgraçadamente nos falhar, no regresso de Dom Sebastião para salvar o país da miséria anunciada.

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