Memorandum of non-understanding













No momento em que vos escrevo, os documentos mais importantes da política portuguesa dos últimos e dos próximos anos não estão disponíveis no site do governo, não foram publicados pelo Estado e não há versão oficial em português. Violam-se assim dois princípios fundamentais da UE: a transparência e o respeito pelas línguas nacionais, que obriga a que todos os documentos oficiais sejam publicados nas línguas dos cidadãos afectados.



Publicado em: O Gaiense, 21 de Maio de 2011














Isto diz tanto sobre os documentos das troikas como o seu próprio conteúdo. Tendo em conta que poderá vir a ser este o verdadeiro programa de governo, eis-nos chegados ao nível mais baixo de democracia política: governados de forma colonial por quem não se dá sequer ao trabalho de traduzir as ordens para que as possamos entender.
Não é a primeira vez que isto nos acontece. Há pouco mais de vinte séculos, os romanos entraram por aqui dentro a dar ordens em latim, reorganizaram o território, construíram pontes e estradas, exploraram as nossas riquezas e o nosso trabalho, levaram o ouro e tudo o mais que lhes interessou. Há quem diga que o balanço não foi negativo. Mas quem hoje lembramos como nossos heróis não são os imperadores romanos ou os seus servidores locais, cujos nomes se esfumaram sem glória; de quem nos orgulhamos é do Viriato e dos seus homens, que resistiram com coragem, que várias as vezes os venceram, ajudando a forjar o que viria a ser o espírito português.
Será que as populações que hoje habitam este velho território são dignas dessa memória ou são apenas herdeiras daqueles que, naquele tempo, se submeteram passivamente (com pragmático realismo) à nova realidade imperial romana, obedecendo a ordens que nem sequer conseguiam compreender?





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