A nova estratégia da UE para 2010-2020



Publicado em: O Gaiense, 17 de Abril de 2010

Em Março de 2000, era Guterres primeiro-ministro e exercia a presidência rotativa do Conselho Europeu, foi aprovada em Lisboa a estratégia da União para a primeira década do século XXI – a chamada “Estratégia de Lisboa”. O prazo chegou agora ao fim e todos são unânimes em considerar que os objectivos não foram alcançados. A estratégia, apesar de aprovada por todos os governos, nunca foi consensual na sociedade, tendo originado um vasto leque de críticas. Vivia-se a época do neoliberalismo triunfante, a UE mantinha ilusões de que, baseando a sua estratégia no paradigma da competitividade, iria liderar o mundo em 2010. Porém, 2010 chegou com toda a sua crua realidade: a UE não é o “espaço económico mais dinâmico e competitivo do mundo”, não temos “mais e melhores empregos”, nem “maior coesão social”, como previsto em Lisboa. A afirmação de que “esta estratégia visa permitir à União reconquistar as condições do pleno emprego” soa-nos hoje quase a humor negro.
Depois dessa fase de ilusões, o neoliberalismo, como ideologia, sofreu um enorme revés com a crise e verificou-se que alguns países que não seguiram à letra as suas receitas e dogmas resistiram melhor às dificuldades e ganharam espaço de maior destaque na cena internacional.
A Europa estaria disposta a tirar algumas lições de tudo isto? Este seria o momento, já que 2010 é ano de aprovar nova estratégia, a que se chama, para já, “Estratégia Europa 2020”. Foi proposta pela Comissão Europeia e começou a ser discutida na reunião do Conselho realizada precisamente no mesmo mês de Março, dez anos depois de Lisboa. Vai ser formalmente aprovada no Conselho Europeu de Junho.
Para já, o que o Conselho fez foi dar um apoio genérico ao documento da Comissão, mas não se comprometendo com as metas concretas aí apontadas. A proposta da Comissão é polémica, discutível, francamente criticável na sua aposta em velhas receitas que já comprovaram a sua habilidade para produzir maus resultados. Mas, com a contribuição do Conselho, vamos provavelmente ficar com um documento frouxo, dissimulado e impreciso. Talvez um verdadeiro retrato da falta de liderança e de projecto que caracteriza a actual UE. De qualquer modo, não fará grande diferença. A experiência já mostrou que não é para cumprir.

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