FSM - reuniões com os presidentes









Paralelamente ao FSM, os movimentos sociais organizaram uma reunião (com entrada por convite) com quatro presidentes da República: Rafael Corrêa do Equador, Fernando Lugo do Paraguai, Evo Morales da Bolívia e Hugo Chávez da Venezuela, subordinada ao tema “Diálogo sobre a integração popular da nossa América”, o único lugar do mundo onde, segundo os oradores, se passou da resistência ao neoliberalismo à fase de construção de alternativas concretas.

Os organizadores foram o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a FEDAEPS - Fundacion Ecuatoriana de Accion, Estudios y Participacion Social, o REMTE – Rede Latino Americana de Mulheres Transformando a Economia, e o ALAI – Agencia Latinoamericana de Información.

Antes de começarem as intervenções, enquanto se aguardava a chegada de Morales e Chávez, os presidentes Lugo e Corrêa animaram os presentes cantando canções revolucionárias, acompanhando os músicos de serviço.

Nos seus discursos, os quatro presidentes referiram-se longamente às transformações em curso nos seus países e às suas perspectivas sobre o socialismo, bem como à necessidade de uma solução comum para a crise internacional.

Rafael Corrêa, sublinhando que a alternativa já existe, afirmou que uma importante característica do socialismo do século XXI é a ausência de dogmas, a constante auto-crítica, a abertura na busca do seu caminho. Mas a maior diferença relativamente às experiências socialistas do século anterior prende-se com as opções de fundo quanto ao modelo e objectivos de desenvolvimento. O socialismo anterior, disse Corrêa, tinha como objectivo atingir um consumo de massas, um objectivo muito semelhante ao do capitalismo, mas pretendia atingi-lo com maior velocidade. Falhou ao não questionar o modelo de desenvolvimento e foi, do ponto de vista ambiental, um autêntico desastre.

Fernando Lugo afirmou o seu sonho de que a esperança do Sul também possa chegar ao Norte e realçou a importância do FSM. Defendeu que a integração regional na América Latina tem de ser construída a partir de baixo, participada pelo povo, para ser real e irreversível, e que as belas palavras dos presidentes e dos governos, sendo importantes, não chegam para tornar real este outro mundo possível.

Evo Morales, que afirmou não ser um convidado naquele tipo de reuniões dos movimentos, mas sim que quer ser convocado, para continuar a fazer o que sempre fez na sua vida de luta, analisou a situação na Bolívia e o recente referendo. Criticando a acção de alguns sectores conservadores da igreja católica, lançou o slogan “outra igreja é possível”. Lembrou que a Constituição não permite bases militares estrangeiras no seu país.

Hugo Chávez levantou a assembleia ao anunciar que agora é feminista, que compreendeu que todo o socialista tem que ser feminista. Falou do “outro mundo” que está a nascer na América Latina, que é ainda um bébé, mas que é a realização da utopia de Thomas More. Falou da Venezuela como território livre de analfabetismo como realização dessa utopia numa terra que há alguns anos tinha dois milhões de analfabetos. Elogiou a importância da criação do FSM num momento histórico em que parecia que não havia esperança e em que muitos acreditavam que o neoliberalismo não teria alternativa. Elogiou a proposta apresentada em Havana por Evo Morales de um Tratado de Comércio dos Povos como alternativa global de comércio justo contra os Tratados de Comércio Livre propostos pelas potências capitalistas.

As mulheres das redes feministas gritavam slogans tais como:

Se cuida / se cuida / se cuida imperialista
America latina vai ser toda feminista

Sou feminista / não abro mão
do socialismo e da revolução.



Nessa noite, num outro local, realizou-se um grande meeting público com a presença de cinco presidentes, estes quatro mais o anfitrião Lula, numa iniciativa sob o lema “América Latina e o desafio da crise internacional”.

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